#001089 – 07 de Novembro de 2024
Sento-me no metro e só há um terço do banco disponível. O rapaz à minha direita, nos seus vintes, tem as pernas abertas de forma a ocupar o seu lugar e boa parte do meu. Peço-lhe espaço, olho-o nos olhos, ele abana a cabeça como quem percebe, mas praticamente não se mexe. Tenho metade do corpo fora do banco, do lado do corredor. Dirijo-me a ele de novo e peço, “pode dar-me metade do espaço, que tal, metade para si, metade para mim?”, ignora-me. À sua frente está uma rapariga, da mesma idade. Talvez a atitude do rapaz, esta espécie de teimosia territorial, tenha sido espicaçada por uma vontade inconsciente de a impressionar. Mas na altura, há dez minutos atrás, não pensei em nada e reagi numa versão de road rage em transporte público. Toquei no rapaz: empurrei-lhe gentilmente a perna, a demonstrar o lugar dele, apontando com a outra mão para o meio. Não o devia ter feito. Não foi uma agressão, mas foi uma invasão do espaço desta pessoa, mais grave que a sua invasão do meu espaço, porque eu toquei-lhe. Os dois saem na paragem seguinte e eu fico sentado, envergonhado e espantado com a minha reação, convencido de que sou também, como qualquer pessoa, capaz de comportamentos imbecis.