001101 – 05 de Setembro de 2022

Não gosto de me escutar. Falo muito, mas a minha voz cansa-me. Incomodam-me: o tom com que falo, demasiadas vezes desligado da intenção; a inútil complexidade das minhas histórias, com demasiado contexto, avanços e recuos no tempo, mini-narrativas a despropósito; a forma intensa como me atiro a um assunto que só me interessa a mim e de cuja especificidade os meus interlocutores não são culpados; a rapidez com que falo; o volume, que me custa a controlar. Quando não falo começa finalmente a escuta que importa: o que me vai dentro. Gosto, também, de escutar outras pessoas e sinto-me imbecil por não as deixar falar mais. Preferia escutá-las a elas, o impulso de falar primeiro e de falar muito é automático, e não encontrei ainda forma de o desligar.