#001228 – 13 de Janeiro de 2023
Não há nada de mais humano do que a programação. Num certo sentido a máquina é uma expressão muito direta do engenho humano. Daí algum do horror que se associa à frieza, à total ausência de emoção nas máquinas. E um programa é a forma mais apurada do que é uma máquina: pura estrutura lógica. Ainda assim, chamar desumano a uma máquina é desajustado. É porque é tão humana – e logo, tão distante da natureza – que uma máquina pode ser tão desconcertante. Nada está tão longe do divino, da ideia de comunhão com o mundo natural, com o que é ancestral e transcendente. Por isso é tão aberrante a moderna divinização da máquina que faz dos algoritmos oráculos e dos homens deuses ou, mais bizarramente ainda, criadores de deuses. A ideia da emergência da inteligência nas máquinas é o extremo desta forma de pensar tão popular: a de que o ser humano dará origem a algo que transcende a natureza, omnisciente, quase omnipotente.