#001236 – 21 de Janeiro de 2023

“Kraken” é um dos livros de China Miéville em que tenho mais dificuldade em penetrar. Depois do primeiro acto, conhecidos os ingredientes do enredo, tudo avança de forma dinâmica, uma realidade que parece ter sido descoberta ao ser escrita. Os parágrafos são complexos e belos, momentos de exploração de Miéville. Oposta a esta forma de ir preenchendo páginas está a escrita do muito mais recente “This Census-Taker”. Tudo é menos ruidoso e agitado, há uma leveza poética muito intensa, porque despojada. Receio, nas páginas que tenho escrito, afastar leitores como eu. Uma energia hermética fecha-me a história, fragmenta-a. Inúmeras possibilidades não se transformam em escolhas sobre o que figura ou não na página, antes em elementos narrativos colocados em conflito aberto no mesmo capítulo. Espero que a revisão me dê pistas que ainda não posso ter. Não tenho a genialidade de Miéville para transformar o caos em beleza.