#001315 – 10 de Abril de 2023
Nana Kwame Adjei-Brenyah escreve histórias sobre lojas, vendedores, sobre a relação vendedor-cliente. Em Friday Black, vários contos, incluindo o que dá título ao livro, têm este contexto – hesito em chamar-lhe tema. É uma escolha estranha e em alguns casos muito bem sucedida. A narrativa na primeira pessoa de “In Retail” é brilhante, o tom quase perfeito. Em alguns casos, como em “Friday Black” as coisas tornam-se bizarras. A febre de vender e de comprar, ou dito de outra forma, as patologias do vendedor e as patologias do cliente que são analisadas quando se cruzam estes dois papéis, transforma-se numa doença, uma misteriosa pandemia, que consome capacidades cognitivas de quem compra e instala um status quo que desumaniza quem vende. Fico muito curioso em relação isto. Não me lembro de outro escritor de ficção científica que abordasse esta relação vendedor-cliente de forma tão focada e específica. São comuns análises mais ao nível da sociedade e da economia, da relação do indivíduo com as estruturas que o limitam ou com a cultura que o informa. Mas aqui tudo o que é contexto é removido, as histórias passam-se dentro da loja, apenas durante as interações relacionadas com a venda e compra. Terá Adjei-Brenyah sido um vendedor? Já dei por mim a pensar escrever sobre o apoio ao cliente, que foi um emprego que repeti e sobre o qual tenho algum conhecimento. Talvez tenha acontecido algo semelhante com o escritor americano.