#001483 – 27 de Setembro de 2023

Sou bipolar, hipertenso, provavelmente autista, bissexual escondido bem fundo no armário, tenho espondilite anquilosante, sou impotente e doente renal. Mas nada disso me define. Gosto do mar, de ficção científica, de abraços, gosto muito de beijos, do silêncio no meio das árvores, de bicicleta e patins, de surf embora não surfe, de skate embora não me equilibre num skate. Tenho medo da dor, embora tenha tatuagens que demoraram mais de 10 horas a tatuar, tenho medo da insanidade, tenho medo de cobras. Não sou patriota, nem religioso. Não sou de terra nenhuma, nem minimamente bairrista. Vivi em sítios diferentes e não nasci neste país. Sinto-me em casa onde estão os meus amigos e sou muito ligado à minha família mas nada conservador. Vejo no moralismo um veneno e não acredito que a ética deva depender de uma ideologia ou espiritualidade. Sou anarquista e gosto da palavra utopia. Como o David Graeber, acredito que devemos agir como se já fossemos livres. E como a Ursula K. Le Guin, acredito que a recompensa do escritor é a liberdade. Dou pouca importância às fronteiras mas muita à língua e à história. Como o George Steiner, acredito que uma língua transporta a história de um povo. Choro com facilidade, sobretudo de felicidade. Sou talvez demasiado empático, o que me cria dificuldades. Não esqueço, infelizmente, de quanto me magoaram. Também já magoei outras pessoas, que não o mereciam. Apaixono-me raramente e nunca me desapaixonei. Sou difícil de aturar. Falo muito mas muitas vezes não digo o que é mais importante, na altura que faz sentido. Sou imaturo. Sou irresponsável com o dinheiro. Sou leal com o meu empregador embora seja anti-capitalista. Lido mal com a ambiguidade, às vezes nem sequer entendo o que me dizem. Prefiro o que é literal, direto, inequívoco. Socialmente sou pouco hábil embora me agrade muito conhecer uma pessoa nova. Não sei se vou publicar este texto, sei que a internet tem uma memória longa e os trolls são cada vez mais infecciosos. Mas acho que o farei. A reserva com que geralmente publico terá aqui uma pausa, breve. Sinto-me vulnerável, o que me dá uma confiança estúpida, de quem acha que não se magoará ainda mais, de quem se sente livre, ou assim quer agir.