#001500 – 14 de Outubro de 2023
Suplício gostava de chorar em locais bonitos. Em alturas bonitas. Em alto mar, durante uma superlua. Em Okinawa durante a sakura. No Nepal, durante o Holi. Na foz do rio Trovela, ao amanhecer, depois de uma descida de muitas horas. Em lugares recônditos no Amazonas, na Patagónia. Em Istmos na Noruega ou na Grécia, durante a noite. Em lugares sem motores, como Hidra. Caminhava muitas horas, sozinho, ou fazia longas viagens de barco, de burro, ou de bicicleta. Chorava convulsivamente, ranhoso e salgado. E regressava. É fácil dizer que o importante era a viagem, não o destino. Mas não havia destino, nem objectivo, apenas emoção crua. Um dia, deixou de chorar. Continuou a viajar, e dentro tinha muito mais espaço, quase tanto como o do mundo em volta. Sentir passara a ser uma forma de ligação com o que existe, não um luto. Mudou até de nome, sem se aperceber. Chamava-se agora Rio.