#001670 – 01 de Abril de 2024
Escuto com alguma frequência desabafos de ateus que dizem ter inveja de quem acredita. Nunca entendi muito bem isso. Mas imagino ser quase homóloga esta sensação: tenho uma profunda inveja de quem consegue abstrair-se da política. Ignorar as tropelias de quem governa, as mentiras, o mau teatro, a corrupção, a retórica de má qualidade, as notícias, muitas vezes também elas fracas, de todo este espectáculo. A política não é coisa bonita nem excitante. É necessária. E não querer saber de quem governa, é garantir que nos governam, não queremos saber do poder é assegurar que não o teremos, ignorar os nossos direitos é abdicar de sermos cidadãos. Os assuntos que têm a ver com os nossos interesses colectivos são confusos e difíceis. Mas pouca coisa terá tanta importância. Ainda assim, tenho alguma inveja da leveza, da alegre leviandade que imagino nos outros e que não consigo ter. Sofro de ansiedade democrática.