#001759 – 29 de Junho de 2024
Um dia de corvos e falcões, de verde e beira rio, de sardaniscas e sardões, de sesta perto da água, de umas dezenas de quilómetros tranquilos, em terra, à sombra de árvores. De passar a vau pedalando, zonas em que o Rio Lima se misturava, invadindo, o caminho. E finalmente, um dia de decisões, quando um pneu fica destruído sem hipótese de reparação, os mecânicos estão fechados e estamos longe demais para regressar. Então vamos até aos Moinhos da Gemieira, onde nos esperavam febras no pão, vinho tinto, e quatro homens de meia idade, chapéus de palha, um bandolim e uma viola, a cantar Zeca Afonso. A refeição avança assim, num fim de tarde quente, numa tasca que foi ali instalada na rocha e tem ar de ali estar há centenas de anos. E ao começar a montar a tenda, apercebo-me que me esqueci das estacas. Tenho dificuldade em acreditar em tão grande descuido da minha parte. Mas lá usamos as bicicletas para segurar a tenda de pé. A chuva vem afinal, mais tarde que as previsões, durante a noite. A tenda, que não está esticada, deixa entrar água. O meu amigo terá de regressar a Viana para ir buscar o carro. Sou, às vezes, assim, como uma criança espantada e despreparada para o mundo, rodeada de pessoas com mais sentido prático e juízo do que eu. Escrevo numa pastelaria. Sinto coisas diferentes, misturadas. Uma delas a gratidão.