#001967 – 16 de Outubro de 2024
Esta forma de semiocapitalismo, expressão de Franco Berardi, é muito eficaz a instrumentalizar a ideia de responsabilidade pessoal como forma de desmobilizar politicamente os cidadãos. O Zizek chama a atenção para quão insidiosa é este pseudo-argumento, quando tentamos falar sobre ecologia e pensar formas colectivas de resistência: “e tu, já fizeste a tua parte?”.
Noto outra forma, que se torna um peso imenso sobre o meu uso do Instagram e comecei a notar há 20 anos no blogue, embora de forma muito subtil. Publico algumas imagens de momentos felizes da minha vida. O meu rosto não surge, mas surgem elementos do que me ocupa, paisagens, a bicicleta. E uma boa parte do conteúdo que vejo na mesma plataforma é sobre crimes horrendos como os do estado de Israel sobre civis. Dia após dia, quase não menciono ou promovo publicações sobre este assunto que é dos que tenho sempre presente e um dos que mais conta com a minha solidariedade. Como é esperado implicitamente que o timeline seja uma espécie de vida online, um reflexo da ética, impulsos, preferências, ideias, opiniões de cada um, esta ausência é gritante. É como se eu não estivesse disposto “sequer” ao esforço de uma imagem publicada.
No entanto, não vejo o meu Instagram como um reflexo do que sou, muito menos como um profissão de fé sobre o meu comprometimento ético com as causas que defendo. Vejo o meu Instagram como um simples mosaico de imagens, com alguma, embora limitada, utilidade. E a acção política, para ser ainda coletiva e livre, tem de acontecer no espaço público. Não basta tornar-se conteúdo explorado como qualquer outro pelas plataformas digitais.