#001983 – 01 de Novembro de 2024

De uma língua para outra até pequenos detalhes mostram formas de nos exprimimos diferentes. Traduzir é aproximar, mais que isso não é possível. Em inglês, tenho sempre a tendência de traduzir literalmente do português, chegando a frases do género “a wrong color”, por exemplo, “I payed for blue, but received a wrong color instead”. Todos os tradutores me corrigem para “the wrong color”. Já aprendi, à força de tanta correção, que é assim que se diz em inglês. Mas continua a incomodar-me esta ideia de “a coisa errada”, em vez de “uma coisa errada”. É que, em casos em que há só uma coisa certa, o número de coisas erradas é infinito. Não só infinito, mas é um infinito incontável, como se diz matematicamente. A coisa errada a que me quero referir é uma entre uma infinidade de coisas erradas possíveis. Enquanto que a coisa certa é só uma. Se traduzir esta forma de pensar em português, diria “the correct thing”, “a wrong thing”. Mas não é assim que se diz em inglês. O que significa que, numa minúscula escala, não estamos na verdade a dizer a mesma coisa, numa e noutra língua. Nenhuma é certa, talvez ambas estejam ligeiramente erradas. Nada há nada de mais humano do que falhar o suficiente para nos entendermos.