#001988 – 06 de Novembro de 2024

Trump venceu. E vamos ficar a saber em breve como o mundo perdeu. Normalizou-se, mais que isso, institui-se a violência verbal e política, a instrumentalização do conflito, as alianças estratégicas com os inimigos mais aguerridos da democracia. É este o centro político, hoje em dia.

Para ser radical basta defender que todos os seres humanos têm os mesmos direitos, que o genocídio é inaceitável, que as pessoas têm direito a uma vida digna, a cuidados de saúde e condições de trabalho mínimas. Nunca durante o meu tempo de vida, quase 50 anos, a barra esteve tão baixa para que qualquer defesa da civilização, do respeito mútuo e da paz entre os povos, por mais moderada, fosse considerada como perigosa ideologia . Não são só os fascistas que comemoram, são também instituições cujo conservadorismo tem financiado estes políticos, como a Igreja Católica, que é a instituição em todo o mundo que mais dinheiro gastou para influenciar as leis do aborto, com sucesso já em muitos países. E bilionários que querem destruir o que resta do estado social, como Elon Musk, que poderá vir a ter poder de decisão e assento no governo que aí vem.

O perigo não está só nos grupos mais extremistas que estes movimentos políticos atraem, está também na larga base de apoio popular, nas muitas coligações de interesses económicos e políticos internacionais que financiam e influenciam o poder. As próximas décadas poderão piorar as crises mais urgentes que enfrentamos, com milhões de refugiados do clima e da guerra a serem tratados desumanamente, com a supressão da liberdade de imprensa, com retrocessos nas políticas climáticas, com a abolição de direitos de pessoas queer, mulheres e minorias. E com o agravar de guerras que já provocaram um número obsceno de vítimas mas que ameaçam a qualquer momento tornarem-se conflitos regionais alargados.

O nosso luto não tem tempo e à nossa urgência nem interessa assim tanto quão moribunda está a democracia. Há que reforçar o quanto antes os laços de solidariedade, garantindo que defendemos, sempre, a nossa humanidade comum.