#002001 – 19 de Novembro de 2024
Content creator é uma expressão triste mas reveladora. Faz-me lembrar a crítica de Franco Berardi à promoção da ideia de nos conectarmos. Diz Berardi que só componentes se podem conectar, que uma conexão implica que os dois lados sejam compatíveis, análogos, que sejam semelhantes. E sugere, na tradução em inglês, conjunction em vez de connexion. Explica que uma conjunção (tradução trapalhona minha) não exige que as duas pessoas (instituições, comunidades, ideias, etc) sejam iguais e abre espaço a que se influenciem e transformem uma à outra.
Da mesma forma, nenhum conteúdo, por mais radical, humanitário, bem intencionado e genial, pode só por si mudar o meio em que é difundido. Conteúdo é, por definição, algo que não só não ameaça a estrutura que o difunde, mas a alimenta e sustenta. Não tendo a lucidez e sabedoria de Berardi, não sei que alternativa temos.