#002025 – 13 de Dezembro de 2024
Já perto, o vento atira-me com chuva gelada e horizontal. Abrigo-me precariamente numa paragem de autocarro e lá chamo o Uber. Os dois metros até entrar no carro, faço-os com o carapuço. Dentro está confortável e quente, e a música é uma agradável bossa-nova, na voz da Maria Rita. Passado um par de minutos num silêncio tranquilo, e porque o motorista se chama Mateus, penso, que bom ter apanhado este brasileiro, e arrisco: “que música boa, lá fora está inverno mas aqui é... tropical”. Mateus respondeu-me num belo e inequívoco sotaque do Porto: “é, vou ouvindo rádio para me distrair, é trânsito o dia todo. Mas às vezes mudo de rádio e tá a dar a mesma música”. O meu comentário teve o efeito inesperado de rebentar aquela bolha momentânea de sossego. Lá fomos falando a caminho da Praça Velásquez, vendo o semáforo fica vermelho mais que uma vez. Ao chegar, os poucos metros até à clínica foram de vendaval, quase cinematográfico. Quase me apeteceu ter uma gabardina esvoaçante, em vez do hoodie. À espera da consulta com o nutricionista, escuto a habitual muzak, de tons jazzísticos, desta vez com temas natalícios. Mudou o ecossistema, os cliques do rato da recepcionistas e as buzinas dos automóveis lá fora compõem a atmosfera sonora. Antes do último ponto final, escuto ainda uma folha a ser impressa e um telemóvel a vibrar.