#002028 – 16 de Dezembro de 2024

mãos dissonantes

Se por vezes a intensidade clara do sentimento te assusta como se uma treva. Outras vezes é a turva intensidade que vais buscar para que doa ou exalte, de novo. A mão que ergues, abre-se rígida, aberta, para te fechar. Diz que não, não ainda, não aguento, não quero, não posso. A outra vai remexer. Diz, faz sentir, fui mau, mereço mal, mereço mais, fui bom, senti muito, foi lá atrás, antes, lá atrás é que foi.

É como se só a memória fosse suportável e segura. Conduzes-te assim, com duas mãos bastante ocupadas, uma que trava, outra que remexe. Com medo, sobretudo, com medo. Não vá vir de frente algo que seja necessário abraçar, e tu com as mãos tão ocupadas.

21 de Junho de 2015