#002065 – 22 de Janeiro de 2025

Entre as coisas que o Zizek vinha a dizer nos últimos anos, uma das coisas mais difíceis de aceitar é a bizarra ideia de que o anti-Semitismo pode ser compatível com o Sionismo. Ou seja, que um anti-semita possa ser sionista. Durante anos avisou Zizek que nos EUA muitos apoiantes de Israel são também empedernidos anti-semitas e que isso vem na sequência histórica de um estranho alinhar de objectivos. Para a Alemanha nazi, a criação de um Estado de Israel garantia haver um local para deportações em massa. No Reino Unido, ilustres apoiantes da criação de Israel publicamente admitiram que seria uma forma de expulsar os judeus, por eles indesejados. Até alguns judeus abastados britânicos, nada interessados em se mudar para a Terra Santa, achavam que era boa ideia os judeus pobres (entre eles marxistas e proletários potencialmente permeáveis à doutrina marxista) irem para longe.

É um espetáculo triste e ainda assim surpreendente ver israelitas nas redes sociais a defender o Elon Musk, tentando negar que o que ele fez é um gesto obsceno, profundamente insultuoso para a memória de milhões que morreram às mãos dos nazis. Elon Musk apoia publicamente partidos extremistas e activistas de extrema direita. Mas, e este é o ponto essencial, também apoia o actual governo de Israel. E por isso, por mais paradoxal que isso nos pareça, é visto como um aliado. Custa constatar como Zizek estava certo aqui. E é gritante a estranheza desta sobreposição ideológica, desta aliança estratégica.