#002070 – 27 de Janeiro de 2025

Montanha russa (traduzo diretamente do inglês rollercoaster) é uma péssima metáfora para o humor de um bipolar, para os seus altos e baixos. Uma montanha russa é uma forma perfeitamente segura de ter uma experiência curta, que atravessa o mundo habitual, num percurso que se pode avaliar antes sequer de se entrar no compartimento. E, mesmo tonto ou sobressaltado, pára a viagem e sai-se para a vida de sempre e vai-se experimentar outra forma de testar as emoções. Os altos e baixos são a própria vida do bipolar, não um percurso, uma viagem do ponto A ao ponto B. É a sobreposição excessiva das emoções à ideia que se tem do mundo, a um ponto em que a percepção, que se vai distorcendo, ganha importância demais e acaba por definir inteiramente o que existe, o que é possível existir. A distorção, de tão inescapável, acaba, quando as coisas azedam, por agregar o impulso de explicar o eu e a sua difícil relação com o mundo, mesmo ou apenas já com fracas ferramentas descritivas. A memória é revisitada, e, sobretudo numa depressão que venha a seguir à mania, a comparação entre a luz com que se via tudo e a sombra que agora se projecta nas coisas é muito destrutiva. Por isso não, não é uma montanha russa, um sobressalto, ou uma sucessão de sustos e desacelerações a vida emocional de um bipolar. Falo apenas por mim e com a incompleta, fragmentada e absolutamente enviesada perspectiva de quem conhece a condição apenas como paciente. Nada do que aqui escreva serve de conselho ou orientação. Quem precisa, que procure ajuda. Estou vivo e muitas vezes até feliz, graças à ajuda que tive e continuo a ter, da família, amigos e terapeutas.