#002078 – 04 de Fevereiro de 2025
A entrevista de Curtis Yarvin ao New York Times é reveladora. Yarvin é uma espécie de anti-Yuval Noah Harari. O historiador israelita fala de forma simples, projectando uma ideia de sinceridade ao apresentar ideias do mundo académico ao grande público. Já Yarvin é absolutamente banal, intelectualmente medíocre, e usa referências históricas e distorções para ofuscar as suas ideias. Escutar o seu discurso é ouvir as baboseiras de um tech bro que se leva demasiado a sério, que procura emanar as vibrações de um pensador marginal. Há pouco tempo, andava Silicon Valley enamorado de Yuval Noah Harari. O seu humanismo era um talismã que os gigantes tecnológicos queriam por perto, como se a personalidade bem intencionada e humilde do historiador poudesse colar-se à sua imagem. Agora as coisas mudaram. Já não são só Peter Thiel e Patri Friedman que publicamente mostram as suas ideias mais extremas, que lembram as distopias anarco-capitalistas de livros do Robert Heinlen. É Bezos, Zuckerberg, Musk. Este último numa cruzada muito espalhafatosa contra a democracia e as instituições. Os senhores tecno-feudais não só não rejeitam a crítica de Yannis Varoufakis, como a encarnam com orgulho. Venha a monarquia tecnológica, haja uma ditadura com um CEO coroado, destrua-se o estado. Todas estas ideias chegaram ao mainstream. Não só estão a ser aplicadas, como foram anunciadas. O caos que Elon Musk está a trazer alia-se perfeitamente ao plano que estava delineado no Project 2025. Vivemos tempos perigosos. É tão estranho estar a assistir em directo à história. Chegámos ao ponto em que duvidamos que daqui a quatro anos hajam novas eleições nos EUA. Como é que as coisas se tornaram tão más?