#002101 – 28 de Fevereiro de 2025

A maldição de conhecer o futuro foi surgindo na ficção ao longo dos séculos. Assenta na ideia de que o futuro já está escrito. Só por isso a maldição. Saber de antemão as desgraças vindouras é terrível quando não há nada que se possa fazer para o evitar. Ao contrário do que é natural (a ignorância do que ainda não aconteceu), conhecer o futuro obriga a uma obsessão inútil. É impossível deixar de pensar em algo indesejável mas não há forma de impedir que aconteça. Na ficção científica esta maldição tem variações interessantes. Uma muito comum procura compatibilizar a ideia de livre árbitro com a versão restrita da noção de que o futuro já está determinado. Nestas histórias, as personagens que lutam contra o futuro conseguem agir livremente, alterar infinitos detalhes mas não o resultado, que é sempre o mesmo. Cai-se na predestinação: por mais voltas que se dê e independentemente das ações humanas, o futuro é inalterável. Outra variação junta a ideia de destino a uma cláusula redentora. É o caso das histórias em que uma personagem fica presa num loop temporal, sempre a reviver a mesma sequência de eventos. Nestas histórias (como no caso de Groundhog Day), a personagem tenta repetidamente fórmulas diferentes, atitudes e ações diferentes, à procura da intervenção que a salve do loop. Nesta versão há um destino oculto que é preciso viver e a personagem repete os mesmo passos até fazer o que é o seu propósito. É talvez inspirada pela história de Sísifo, ou pela cosmogonia budista que considera que a iluminação é o ponto em que se escapa dos ciclos de reencarnação sucessivos. Quanto a mim, só concebo futuro enquanto possibilidade. O futuro é o que só se pode imaginar, que por se poder imaginar contém todas as possibilidades criativas. E por isso não só se pode mudar como é inevitável que esteja sempre em mutação.