#002261 – 07 de Agosto de 2025

À medida que se desprendem as fibras mais duras deste cordão, e o mundo se reveste da luz que já tinha, e a sofreguidão cede o lugar que não lhe pertencia, e das pessoas em volta surge mais luz que perigo, e deixo de escarafunchar em ferida de origem esquecida, e a música, o movimento, o sonho e mesmo a respiração me parecem milagres;

à medida que o desapego reclama o lugar que lhe pertence, e das pessoas em volta espero só que sejam quem são, e a natureza recomeça dentro, no íntimo, à superfície e em todas as moléculas do meu corpo;

à medida que aceito a vida como é, e descubro que não me falta nada, que não estou a mais, não tenho nem defeito de fabrico nem mérito extra;

à medida que vivo mais plenamente neste corpo, e se desvanecem as camadas poeirentas que tapavam os poros e a alma, fica apenas a consciência de mim, a gratidão feliz de existir e uma curiosidade enorme de continuar a viver.