#001041 – 05 de Julho de 2022
No comboio, Nour, Tunisino casado com uma portuguesa. Viajam com os três filhos na linha do Douro, visitando a família do lado português. Temos uma conversa em francês, entre Marco de Canavezes e a próxima estação, Mosteirô. Falei-lhe do meu colega Tarek, Tunisino com quem trabalhei na Grécia. Nour confirma-me o mesmo que o meu colega me tinha transmitido: um orgulho sincero de ser de um país em que muçulmanos, judeus e cristãos convivem pacificamente. Nour diz-me que em Tunes há uma das maiores igrejas de África e que à cidade acorrem judeus em peregrinação. Falamos de como os políticos roubam os recursos das populações e depositam o que roubaram em bancos na Suíça. Foi na Suíça que ele e a esposa se conheceram e é lá que vivem. Antes de eu me levantar para pegar na bicicleta, a esposa de Nour vinha falando com outras pessoas sobre o marido e os filhos, sobre os costumes muçulmanos, o Ramadão, a cultura tunisina. As pessoas sentadas ao seu lado, que tinham o à-vontade de quem a conhecia, iam falando das suas próprias ideias, do que sabiam e do que desconheciam sobre o Islão, dos muçulmanos com que se tinham cruzado na vida. Só muitas horas depois, enquando escrevo, é que olho para isto com alguma distância e bastante gratidão. Sou ateu, mas continuo a acreditar que as diferentes religiões não têm de nos dividir, muito menos as culturas de cada um. Acredito, como Nour, que é sobretudo a política que nos divide.