Notas sobre Bíblia, Teologia e discipulado

A ilusão da polidez

O escritor C.S. Lewis, no livro “Cristianismo Puro e Simples”, afirma que não há um meio-termo quando se trata de Jesus: ou cremos que esse homem era um lunático, ou cremos que suas reivindicações de ser Deus eram verdadeiras. Há uma multidão de pessoas em nossos dias que estão dispostas a conceder que o “Jesus histórico” existiu, e que foi um bom mestre, mas não que ele era Deus feito carne e habitando entre os homens. Os incrédulos amam falar de amor, e usar o nome de Cristo para legitimar suas concepções desvirtuadas sobre o que é amar, mas não estão dispostos a assumir o compromisso de amor que Jesus Cristo ensinou. O chamado de Jesus de Nazaré é radical, exige toda a vida de quem quer seguí-lo e não deixa margens para que haja dois senhores em nossos corações. E a verdade é que, como ensinou Calvino, o nosso coração é uma fábrica de ídolos e naturalmente estamos inclinados à adorá-los. E, infelizmente, há muitos cristãos nominais que padecem da mesma enfermidade espiritual.

“Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.” – Jesus, Mateus 15:7-9.

A verdade é que o mundo odeia a Cristo. O homem natural está cego em seus delitos e pecados, sua mente está cativa das fortalezas espirituais da maldade, e ele se recusa a se comprometer com Cristo para servir ao próprio ventre. E se odiaram ao Senhor, também odiarão aos seus discípulos. Por isso o excesso de polidez dos cristãos nos dias de hoje é uma grande ilusão. As pessoas odeiam Cristo e a Igreja por causa do chamado radical do Evangelho. Por trás de todo o discurso moderno de “respeito à todas as crenças” habita a intenção maligna de silenciar a pregação do Evangelho, de tornar a Igreja tímida, fria e descomprometida com a Verdade, que é Jesus. Precisamos chamar as coisas pelo devido nome: pecado, paganismo, apostasia, etc. E precisamos chamar às pessoas ao arrependimento, como os profetas o fizeram, como Cristo o fez, como os apóstolos nos ensinaram a fazer.

Não estou dizendo com isso que devemos ser agressivos ou sem misericórdia, mas também não devemos ser aduladores de egos em rebelião contra Deus. Devemos abraçar, servir e socorrer, mas chamar as coisas pelo seu devido nome, sem concessões. Se a sociedade quer nos pressionar, intimidar e silenciar, nos resta apenas a resposta de Pedro, e os demais apóstolos, perante o Sinédrio: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens.” (Atos 5.29). Ninguém será salvo pelo fingimento de nossas palavras, pelo cuidado excessivo em não desagradar os ouvidos cheios de comichões dos descrentes, mas sim pela proclamação fiel das Boas-Novas. Foi o própio Senhor quem nos alertou:

“O discípulo não está acima do seu mestre, nem o servo, acima do seu senhor. Basta ao discípulo ser como o seu mestre, e ao servo, como o seu senhor. Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais aos seus domésticos? Portanto, não os temais; pois nada há encoberto, que não venha a ser revelado; nem oculto, que não venha a ser conhecido. O que vos digo às escuras, dizei-o a plena luz; e o que se vos diz ao ouvido, proclamai-o dos eirados. Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo [...] Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus.” – Mateus 10:24-28, 32-33.

Soli Deo Gloria

Leitura bíblica:
João 1:10-14, I João 1:1-3, Mateus 16:24-26.
Efésios 2:1-3, Romanos 3:10-18, 23.
II Coríntios 4:3-4, 10:3-5.
João 3:19-21, João 15:18-23.
Mateus 4.17, 23, Atos 2:37-40.
II Timóteo 3:1-9.